26.6.05

 

O texto que Ninguém estava devendo


E tudo começou há 13,7 bilhões de anos*.

Finalmente, segue aqui o texto que estava devendo sobre os livros de Michio Kaku e Clifford Pickover. Começo pelo livro de Pickover, que lida especificamente com a idéia de construir uma máquina para viajar no tempo. O resultado é, digamos, hum... passável. Ele divide os capítulos do livro em duas partes. Na primeira, há uma historinha sobre um grupo de pessoas que querem viajar no tempo. Na segunda parte, ele descreve "a ciência por trás da ficção". Há dois problemas em Time: A Traveler's Guide: 1) a historinha é sofrível, ruinzinha, mesmo; e 2) as equações estão na parte da historinha e não contam com exemplos ilustrativos, que ajudariam um papalvo como Ninguém a absorver melhor determinados conceitos. Então, se o elemento não entende muito de matemática (como é o meu caso), é fácil se perder em equações estéreis... A segunda parte dos capítulos é bem mais interessante, quando ele descreve de modo mais didático os problemas enfrentados e as soluções previstas para se conseguir viajar no tempo. Há, também, uma série de apêndices com programinhas simples de computador, que simulam os efeitos de uma viagem no tempo ou em velocidades próximas à da luz. De qualquer modo, fiquei tão desapontado com a falta de exemplos nas equações e o conteúdo infantilóide da historinha que, se pudesse, devolveria o livro.

Já os dois livros de Kaku são bastante instigantes. Em Hyperspace, ele explica de modo didático temas (ou, melhor dizendo, o debate sobre esses tópicos) como: a origem e o fim do universo, buracos negros, buracos de minhoca, universos paralelos, teoria das cordas e das supercordas, viagens no tempo e entre universos paralelos, dimensões (além das quatro que conhecemos), etc. Ele escreve bem, e o livro flui com naturalidade. Só que é muito difícil de entender a teoria das cordas e das supercordas. Até agora não entendi e acho que nunca vou entender. Lógico, estou apenas começando a ter contato com o assunto. De qualquer modo, em Parallel Worlds, Kaku retoma as premissas do livro anterior e faz uma atualização, incluindo as mais recentes descobertas no campo da física teórica (Hyperspace é de 1994, e Parallel Worlds, de 2005). A maior das diferenças é que existiriam onze dimensões, em vez das dez mencionadas no primeiro livro. Um dos tópicos mais interessantes do livro é a esquematização dos tipos de civilização existentes no universo. Essa divisão foi sugerida por um cientista russo, Nikolai Kardashev, na década de 1960, e baseia-se no nível de consumo de energia: a) Tipo 0: a nossa, em que ainda estamos explorando a energia existente no planeta; b) Tipo I: uma civilização planetária, na qual todos os recursos energéticos do planeta são explorados, e a tecnologia permite prever terremotos e modificar e controlar o clima; c) Tipo II: uma civilização capaz de explorar diretamente a energia de sua estrela e de explorar e colonizar os planetas de uma pequena parte de sua própria galáxia; e d) Tipo III: uma civilização capaz de explorar a energia de bilhões de estrelas e de colonizar planetas em vastas porções de sua própria galáxia. De acordo com os cientistas, o grande problema será passarmos do Tipo 0 para o Tipo I em razão de ainda vivermos em unidades autônomas (países) e da nossa insistência em vivermos às turras uns com os outros. Alie-se a isso a proliferação de armas nucleares e a exploração desmesurada dos recursos naturais e tem-se uma elevada probabilidade de algo dar errado. De qualquer modo, limitando-se a equação apenas à questão nuclear, se não desaparecermos nos próximos duzentos anos, mais ou menos, é provável que consigamos passar para o Tipo I de civilização. Os livros, obviamente, são mais elegantes do que a minha tacanha descrição. Gostei muito mais destes dois livros do que o do Pickford. Apesar de Kaku defender algumas teses, abre algum espaço para seus opositores (isto é, menciona em linhas gerais o que postulam), o que demonstra, no mínimo, uma grande dose de elegância. O texto de Kaku flui muito bem. Com a exceção de um erro em uma explicação para a origem da União Européia (em Parallel Worlds), não tenho capacidade de comentar se houve ou não alguma aberração nas explicações sobre todo o resto. Li os dois livros com grande prazer (assim, tipo a Salma Hayek surgindo da cabeça de Zeus), mas preferi mais o Hyperspace, porque foi o meu primeiro contato com o universo de Kaku. De qualquer modo, se tivesse de escolher apenas um dos livros, optaria por Parallel Worlds, por ser mais atualizado e tratar de praticamente os mesmos assuntos que o Hyperspace.

Agora, com o texto em dia, volto à labuta, pelo menos até o dia 30.


Para não dizerem que este texto é árido!

* Imagem gerada pelo satélite WMAP (Wilkinson Microwave Anisotropy Probe ou "Sonda Wilkinson de Anisotropia de Microondas", acho que é isso!), que mede a radiação cósmica de fundo. Essa seria a imagem do universo quando teria apenas uns 370.000 anos de idade.

Comments:
Oi, Smart! Que prazer contar com a sua visita. Quando li sua mensagem na minha caixa postal, fiquei pensando: "Ué, mas não me lembro de ter escrito sobre teoria econômica nem de ter citado o Hayek?" Reli o post inteiro e só no final me dei conta de que você estava falando da nossa querida Salma. Apareça sempre e fique à vontade. [ ]s, Ninguém.
 
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